Ciclo de queda da Selic: entenda o impacto na economia e nos investimentos

O ciclo de queda da Selic (juros básicos da economia) traz efeitos para a economia e população. Nessa quarta-feira (20), o Copom reduziu para 12,75% a taxa básica de juros. Se por um lado a taxa continua em patamares elevados, por outro, o ciclo de queda sinaliza que a economia nacional caminha para a estabilidade e que a preocupação com as metas fiscais está menor.

De acordo com Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, a decisão unânime do colegiado é um ponto importante. “Pois tira as incertezas em relação ao futuro”, diz.

Ainda segundo ele, o que motivou o colegiado a decidir de forma unânime por essa redução foram as expectativas de inflação. “Para o período relevante das estratégias de política monetária, que é todo o ano de 2024 e início de 2025, as expectativas estão bastante ancoradas muito próximas ao centro da meta de inflação”.

Meta fiscal

Para ele, há sinais positivos quanto à meta fiscal, de que o governo pode atingir o equilíbrio fiscal no médio e longo prazo. “Mas claro que isso sempre é um fator de risco, que fica no radar do Banco Central”, explica.

Andrea Damico, economista-chefe da Armos Capital, diz que o comunicado do Copom traz um alerta para o governo. “Pois destaca a importância de execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem de expectativas de inflação. E, consequentemente, para a condução da política monetária. Então, foi uma espécie de recado passado para a Fazenda, para o governo, que precisa perseverar nas metas para que a política monetária consiga continuar sendo flexibilizada”, explica. Assim, o colegiado tente a manter o ciclo de queda da Selic.

Para a população

Já para a população, os impactos do ciclo de queda da Selic englobam o custo do crédito, a geração de emprego e renda, além dos investimentos.

Por enquanto, segundo a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), o efeito no crédito ainda não deve ser sentido. Isso porque, com o impacto na ponta final diluído, por causa da diferença muito grande entre a taxa básica e os juros efetivos de prazo mais longo, o tomador de novos empréstimos sentirá pouco os efeitos do afrouxamento monetário.

Segundo a Anefac, o juro médio para as pessoas físicas passará de 124,76% para 123,75% ao ano. Para as pessoas jurídicas, a taxa média sairá de 60,97% para 60,23% ao ano. A Selic passou de 13,25% para 12,75% ao ano.

Por exemplo, no financiamento de uma geladeira de R$ 1,5 mil em 12 prestações, o comprador desembolsará R$ 0,39 a menos por prestação e R$ 4,65 a menos no valor final com a nova taxa Selic. O cliente que entra no cheque especial em R$ 1 mil por 20 dias pagará R$ 0,27 a menos.

Na utilização de R$ 3 mil do rotativo do cartão de crédito por 30 dias, o cliente gastará R$ 1,20 a menos. Um empréstimo pessoal de R$ 5 mil por 12 meses cobrará R$ 1,24 a menos por prestação e R$ 14,87 a menos após o pagamento da última parcela.

Emprego e renda

Ao passo que há o ciclo de queda da Selic, as empresas tendem a crescer, mesmo que seja preciso tomar mais riscos. Como resultado, a tendência é o aumento na geração de empregos na esteira desse investimento e crescimento.

Assim, otimismo em relação ao potencial de crescimento da economia melhor, bem como a geração de renda. Pois, com mais empregos, mais dinheiro acaba correndo na economia.

Poupança e investimentos

E com mais dinheiro circulando na economia, os investimentos também tendem a crescer. Agora, em meio a esse ciclo de queda da Selic, é preciso saber qual a melhor opção.

A Anefac simulou o impacto da nova taxa Selic sobre os rendimentos da poupança. Com a taxa de 12,75% ao ano, a caderneta só rende mais que os fundos de investimento quando o prazo da aplicação é curto e a taxa de administração cobrada pelos fundos é alta.

Segundo as simulações, a poupança rende mais que os fundos em apenas dois cenários, com aplicação de até dois anos em relação a fundos com taxa de 3% ao ano e aplicação de até seis meses em relação quando o fundo tem taxa de administração de 2,5% ao ano.

Assim, o advisor da Blue3 Investimentos Guilherme Mendes, explica que o atual momento é um dos melhores para se posicionar na renda variável.

“Tanto a Bolsa quanto os fundos multimercado devem se beneficiar muito com a redução da taxa de juros. Esse aumento de fluxo na procura de ativos de risco vem embasando os ganhos”.

Assim, para saber a melhor opção, a ajuda de uma assessoria de investimentos é ideal nesse cenário.

Ciclo de queda da Selic

Dario Durigan, ministro interino da Fazenda durante a viagem de Fernando Haddad a Nova York, disse que o Copom deu um bom sinal ao confirmar que continuará o ciclo de queda da Selic. Segundo ele, o comunicado emitido logo após a reunião traz previsibilidade para os agentes econômicos.

“Com a sinalização de que essa queda vai seguir nas próximas reuniões, isso dá uma tranquilidade grande para o mercado, uma boa sinalização”, disse Durigan ao comentar a queda da Taxa Selic de 13,25% para 12,75% ao ano.

O secretário-executivo ressaltou que o governo recebeu de maneira “muito positiva” a decisão do BC e que o governo continuará a trabalhar para controlar as contas públicas. Ao passo que a autoridade monetária prossegue com o ciclo de redução dos juros.

“Esperamos seguir fazendo nosso esforço, harmonizando a política fiscal, para que a política monetária siga nessa tendência, que é muito positiva para o país”, comentou.

Para Durigan, outro fato que também emite bom sinal ao mercado foi o Copom ter decidido de forma unânime pelo corte de 0,5 ponto.

Por fim, na reunião de agosto, o colegiado reduziu a Selic na mesma magnitude, mas com placar de 5 a 4, com o presidente do BC, Roberto Campos Neto, desempatando a votação.