Superávit comercial do Brasil em 2022 fica ligeiramente superior ao de 2021, diz FGV

economia

Superávit comercial do Brasil em 2022 fica ligeiramente superior ao de 2021, diz FGV

16 jan 2023Última atualização: 21 junho 2024

Redação It's MoneyRedação It's Money

O valor exportado pelo Brasil em 2022 cresceu 19,1% e o valor importado 24,3%, em relação ao ano de 2021, o que levou a um superávit na balança comercial de US$ 61,8 bilhões, superior ao de 2021 que foi de US$ 61,4 bilhões, informou nesta segunda-feira (16) a fundação Getulio Vargas, FGV.

O saldo em novembro surpreendeu com a melhora das vendas para a China. Em dezembro, novamente o saldo com a China foi maior do que o registrado no mesmo mês de 2021, passando de US$ 724 milhões para US$ 1,8 bilhões.

O resultado foi que o superávit comercial do Brasil em 2022 ficou ligeiramente superior ao de 2021, uma diferença de US$ 400 milhões. O superávit da agropecuária aumentou, o da extrativa reduziu e o déficit da indústria de transformação aumentou.

As restrições da oferta agrícola associada à Guerra na Ucrânia e questões climática elevaram os preços agrícolas, pois o aumento no volume exportado foi de 2,6% menor do que o da indústria de transformação.

Na extrativa, preços e volume das exportações recuaram com o desempenho do minério de ferro desfavorável. O déficit na indústria de transformação é recorrente na balança comercial do Brasil desde 2009.

Para 2023, as projeções sinalizam para um menor crescimento da economia mundial do que em 2022 e de uma taxa de crescimento do Brasil abaixo de 1%. Exportações menores e importações menores seriam esperadas.

Os preços agrícolas não devem acelerar com o fim do efeito das secas e substituição das fontes de grãos da Ucrânia e da Rússia o que significa que a melhora das exportações irá depender mais do volume exportado.

Para as exportações brasileiras agropecuárias a grande incógnita é o efeito China. Com o relaxamento da política de COVID zero é esperado uma retomada parra um crescimento econômico ao redor de 5%.

No entanto, ainda estão incertos o efeito dessa política e se poderá ser mantida. A União Europeia, outro mercado importante para s produtos da agro, com a crise energética é um dos principais fatores para o menor crescimento mundial.

O preço do petróleo irá continuar sendo afetado pelas questões geopolíticas e a recuperação das exportações da extrativa depende também da recuperação das vendas de minério de ferro para a China. No caso das manufaturas, a crise da Argentina não favorece o aumento das exportações de maior valor adicionado do setor automotivo.

Uma primeira leitura, o saldo comercial de 2023 deverá ser menor que o de 2022.

Resultados agregados

O crescimento nos valores dos fluxos de comércio foi liderado pela variação dos preços, que aumentou 13,7% para as exportações e 21% para as importações entre 2021 e 2022. O volume exportado cresceu 4,4% e o importado, 2,7%.

A participação das commodities no total exportado em 2002 foi igual a de 2021, 68%. Esse grupo registrou aumento de 19,2% em relação a 2021 explicado pela variação de 13,9% dos preços e 4,4% do volume.

As não commodities apresentaram resultados similares, variação em valor de 19%, em preços de 13,5% e em volume, 4,7%. Logo, tanto as commodities como as não commodities contribuíram para a expansão do valor exportado. Os preços lideraram essa expansão e a variação no volume foi próxima de 5%.

O aumento no preço das exportações de commodities, em 2022, não foi suficiente, porém, para que o índice de preços superasse o pico da série que foi em 2011 no valor de 139,5. Em 2022, o índice foi de 130,2, uma retração de 6,7%, em relação a 2011.

Por outro lado, o índice do volume exportado das commodities alcançou o seu pico, em 2022, sendo 2,4% superior ao maior valor antes registrado que foi em 2020, 180,2.

Nas importações, o grupo das commodities elevou sua participação de 8,5% para 11,7%. Esse aumento se deve principalmente ao comportamento dos preços que cresceram 47,9% entre 2021 e 2022 e, em segundo lugar ao volume, que registrou uma variação de 15,3%.

Para as não commodities que são responsáveis pela maior parte das importações, as variações foram menores, 18,3% para os preços e 1,4% no volume. A Guerra na Ucrânia, os efeitos climáticos nas lavouras e os gargalos herdados e ainda não totalmente superados da Covid 19 explicam o aumento nos preços das importações que impactou na inflação mundial e do Brasil.

O aumento de preços das importações de commodities foi o maior registrado na série histórica iniciada em 2008. O anterior foi a variação entre 2010 e 2011 de 36,6%. No entanto, o índice de 2022 no valor de 149,1 foi inferior ao do pico da série, 161,1, em 2008, e aos índices registrados entre 2011-2013.

O efeito inflacionário do aumento nos preços das commodities importados foi, portanto, o mais elevado na série histórica.

O aumento nos preços das importações de commodities e das não commodities levou como já mencionado a uma variação superior no preço das importações em relação aos preços exportados. Assim, após ter aumentado em 14,7% entre 2020 e 2021, os termos de troca recuaram 6,2% entre 2021 e 2022.

Em relação ao pico da série que foi em 2011, 121,5, os termos de troca de 2022, 108,7, caíram 10,5%.

Os termos de troca na comparação entre 2021 e 2022 não tiveram um efeito positivo sobre a renda a economia.

Resultados por tipos de indústria

É esperado um recuo no valor adicionado da agropecuária e, portanto, uma contribuição negativa para o crescimento do PIB. Para a balança comercial, porém, a contribuição da agropecuária foi positiva, sendo que o saldo comercial do setor passou de US$ 46,5 bilhões para US$ 65,8 bilhões entre 2021 e 2022.

A indústria extrativa registou queda do superávit que passou de US$ 63 bilhões para US$ 45,5 bilhões e na indústria de transformação, o déficit ampliou de US$ 45,3 bilhões para US$ 48,5 bilhões). Logo, o aumento no superávit de 2022 foi explicado pelo desempenho da balança comercial da agropecuária.

A indústria de transformação explicou 55,7% das exportações brasileiras, seguida pela extrativa, 22,8% e a agropecuária, 21,3%. Na comparação anual em valor, a maior taxa de variação no ano foi da agropecuária (37,9%), seguida da transformação (25,2%) e a indústria extrativa registrou queda em 4,7%.

O desempenho positivo da agropecuária é atribuído principalmente aos preços com variação de 34%, enquanto o volume cresceu 2,6%. Na indústria de transformação, a diferença é menor: preços (15,7%) e volume (8%).

Na indústria extrativa, as variações foram negativas para o volume e preços. Observa-se que na comparação dos meses de dezembro, a indústria extrativa registrou a maior variação no volume (22,6%) comparada com os outros setores.

Nesse mês, as exportações de petróleo bruto lideraram as exportações com variação em valor de 62,2% e de volume, 55,5%, sendo a participação no total da pauta de 17,5%.

No ano, a soja foi o principal produto exportado, seguido do petróleo bruto e o minério de ferro. Ressalta-se, porém, que enquanto os dois primeiros registraram aumento no valor exportado, as vendas de minério de ferro recuaram em 35,3% com queda no preço e no volume.

O menor crescimento do volume das exportações de agropecuária em relação ao da transformação e o recuo na indústria extrativa não mudam a tendência observada nos índices de volume por tipo de indústria ao longo do tempo.

Na análise dos índices, o setor agropecuário mostra uma trajetória ascendente e com níveis acima da extrativa e da transformação.

Em segundo lugar temos a indústria extrativa com trajetória também ascendente, porém mais suave que a agropecuária. Por último com os menores índices, a indústria de transformação com uma tendência à estabilidade no valor dos índices.

A indústria de transformação responde por 86% das importações brasileiras, seguida da extrativa, 11,3% e a agropecuária, 2%. Na comparação anual, destaca-se a variação em valor da extrativa, 79,6%, explicada por um aumento nos preços de 75,1%, pois o volume aumentou 3,8%.

Esse resultado está associado às compras de óleos brutos de petróleo que aumentaram em valor, 148,2% com aumento nos preços de 47,5%. Em dezembro, os preços da extrativa recuaram, mas o volume cresceu 21,6%. Novamente, as compras de petróleo tiveram peso nesse resultado, pois cresceram em valor 313%, com uma variação no volume de 259%.

Na comparação entre 2021 e 2022, o aumento de preços da agropecuária e da transformação foram bem menores do que o da extrativa, ficaram abaixo de 20% e o volume recuou para a agropecuária e cresceu 3,2% para a transformação.

O resultado para as importações de bens de capital em volume da agropecuária — aumento de 54,2% — revela que o setor espera um melhor resultado para 2023 em termos de valor adicionado, o que é compatível com as projeções de um aumento de safra em 2023 em relação a 2022.

O recuo no volume importado de bem intermediários está associado tanto a menor safra de 2022 como ao aumento dos preços desses bens em 63,7% puxado pelo impacto da Guerra da Ucrânia nos preços de fertilizantes.

Os preços de bens intermediários para a indústria de transformação também cresceram, porém a taxas menores e o volume registrou variação positiva. As compras em termos de volume dos bens de capital para a indústria de transformação em comparação com a agropecuária indicam uma expectativa de menor crescimento da demanda e, logo, da expansão da capacidade produtiva.

As compras de bens de capital da indústria crescem entre 2010 e 2013, quando o índice atingiu o valor de 139,1. Depois entra numa trajetória descendente e chegou ao valor mínimo da série em 2017, 79,0.

Volta a crescer e em 2022 quando o valor do índice foi de 128,7. Não só os índices da indústria são inferiores ao da agropecuária, além de não ter ainda conseguido ultrapassar o pico da série que foi em 2013.

Resultados por mercados

O superávit com a China recuo em US$ 11,3 bilhões e o déficit com os Estados Unidos aumentou em US$ 5,7 bilhões. Os dois países contribuíram para uma queda de US$ 17 bilhões para o saldo comercial entre 2021 e 2022.

Os outros países, regiões ou blocos melhoraram o seu saldo comercial com o Brasil e a diferença dos saldos desse grupo entre 2021 e 2022 foi de um ganho de US$ 19,5 bilhões.

A variação no volume exportado entre 2021 e 2022 mostra aumento em todos os mercados, exceto a China com queda de 2,8%. Para o recuo no volume exportado para a China contribuiu a retração nas vendas de minério de ferro em preços e volume, o segundo principal produto de exportação para o país.

Em compensação foi registrado aumento de 81% nas exportações de carne bovina, que passou a ocupar o quarto lugar na pauta de exportação do país.

Observa-se que em dezembro, a China liderou o aumento no volume exportado, explicado em parte pelo aumento das vendas de carne que começaram a ocorrer esse ano, após embargos no final de 2022.

Para a Argentina, após um primeiro semestre onde se observou crescimento das exportações para o país, o agravamento da crise no país e restrições cambiais afetaram o comércio e na comparação entre os meses de dezembro, a queda foi de 22,1%.

Destaca-se o crescimento das exportações para a União Europeia com uma variação de 15,8% na comparação anual e de 12,8% no mês de dezembro. Óleo bruto de petróleo, farelo de soja e milho que foram beneficiadas com as restrições da oferta associadas à Guerra na Ucrânia.

No caso dos preços, a variação dos preços na comparação anual para as exportações foi de 4,2% para a China e para o restante dos mercados analisados ficou entre 15,4% (Estados Unidos e 19,6% (União Europeia). Preços e volume explicam, portanto, a queda da participação da China de 31,3% para 26,8% entre 2021 e 2022.

No caso do volume importado, apenas China e União Europeia registraram taxas de variação positiva. Em relação aos preços de importações para os principais mercados, todas as variações foram positivas entre 2021 e 2022: Estados Unidos (33,1%); União Europeia (19,6%); Argentina (16,9%); e China (13,6%).

Fonte: FGV

Redação It's Money

Redação It's Money

A redação do portal It’s Money é formada por um time de profissionais com ampla experiência editorial, com acompanhamento e revisão de jornalistas especializados.

Saber mais

Gostou do conteúdo?

Queremos sempre melhorar a experiência a sua experiência. Se puder, dê uma forcinha para o time de redação e conte o que você achou da edição de hoje.

O que achou deste conteúdo?

  • Ruim
  • Ótimo
As melhores análises do mercado

Receba em primeira mão as melhores análises do mercado financeiro diretamente em sua caixa de entrada. Nossa newsletter oferece insights exclusivos, tendências e perspectivas sobre o mercado.

Deixe-me ler primeiro uma amostra