Afinal, a renda fixa varia?
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Afinal, a renda fixa varia?
20 ago 2024•Última atualização: 20 agosto 2024
A renda fixa na prática é bastante variável. Parece um tanto contraintuitivo esse pensamento, mas é a verdade. E pela minha experiência diária com clientes/investidores esse não é um conceito tão claro como pode se pensar.
Afinal, a renda fixa varia? Sim!
Vamos lá, basicamente, no Brasil temos três classes que resumem a renda fixa quando falamos de investimentos: a pré-fixada, a pós-fixada e a de inflação.
Títulos pré-fixados
Os títulos pré-fixados são aqueles onde um emissor os coloca ao mercado assumindo o compromisso de remunerar uma taxa de juros combinada antecipadamente.
Por exemplo, 12% ao ano, independente do que aconteça durante o prazo, o investidor irá receber aquele retorno percentual contratado.
Títulos pós-fixados
Quando vamos aos títulos pós-fixados, estamos basicamente falando daqueles indexados a taxa de juros de referência do Brasil, essa que é definida pelo comitê de política monetária do Banco Central, mais conhecida como taxa Selic.
Como exemplo, temos duas opções nesse caso: uma delas será algum percentual do CDI no período e a outra o CDI mais uma parcela fixa.
Na prática, seriam 110% do CDI ou CDI + 1% ao ano. Nesses casos, vamos dizer que a Selic está em 10% ao ano, ambos os exemplos seriam títulos rendendo 11% ao ano.
Agora, como o nome já bem diz, são pós-fixados, pois a Selic pode variar ao longo do tempo e caso isso aconteça, o retorno final do investidor irá variar junto.
Vamos dizer que a Selic caiu para 8% ao ano, os 110% do CDI serão 8,80% ao ano e o CDI + 1% será o equivalente a 9% ao ano.
Títulos indexados à inflação
Por último e não menos importante, na minha opinião a classe que mais merece atenção quando falamos da dinâmica macroeconômica do nosso Brasil, os títulos indexados à inflação.
Basicamente, eles são atrelados ao índice apurado pelo IBGE, mais conhecido como IPCA e nos garantem a proteção do real poder de compra do dinheiro ao longo do tempo.
Por exemplo, um título com retorno estabelecido na contratação em IPCA + 6% ao ano. O índice oficial de inflação no período de 12 meses fechou em 4%, ou seja, seu retorno ao investimento será de 10% naquela janela.
Claro que, não esqueçamos que o índice é apurado mensalmente, isso quer dizer que durante todo o período, o retorno irá ser mensurado proporcionalmente ao dia e ir acumulando de acordo com as variações mais a taxa fixa definida no início.
Mas qual é o melhor para investir?
Primeiro, lastimo informar, mas discordo da ideia que exista o melhor, neste caso a combinação entre eles é a resposta ideal.
Lembra? A renda fixa varia! E eu vou lhe provar a seguir.
Ah, antes, penso que vale tentar resumir a sopa de letrinhas das opções que temos de títulos mais utilizados no mercado.
Aqui não estou falando se é pré, pós ou inflação, pois temos na maioria deles as mesmas emissões com diferentes indexadores.
Opções em renda fixa
Mas vamos lá, quando falamos em renda fixa no Brasil, você irá ouvir falar dos títulos públicos, ali dentro deles, temos as LFT, LTN, NTN-B e NTN-F.
Nas emissões bancárias, os mais conhecidos CDB, LCI, LCA. Além das LF e LIG. E para fechar, os emissores de crédito privado, onde se encontram as debêntures, CRI e CRA.
Para deixar claro, existem outros títulos no mercado, mas aqui eu quis citar os que de fato na minha experiência diária como assessor de investimentos observo serem negociados.
Ah, podemos separar também, os que tem isenção de imposto de renda na pessoa física ao investidor. Do lado dos isentos ficariam as LCI, LCA, LIG, CRI, CRA e Debêntures incentivadas.
Na outra ponta, os não isentos, são todos os títulos públicos, mais CDB, LF e debêntures.
Custo de oportunidade
Bom, agora voltando ao assunto da renda fixa variar, existe o componente chamado custo de oportunidade nisso tudo.
Por exemplo, se você investe apenas em título pré-fixado, seu retorno está travado por aquele prazo determinado.
E se ocorrer uma crise monetária com o Banco Central elevando a taxa de juros? Seu título está travado a 12% ao ano e a Selic vai para 15% ao ano?
Você está deixando de capturar esse retorno mais elevado que o mercado está oferecendo de prêmio, sem falar da provável perda real do poder de compra, pois um movimento desses normalmente acontece para conter um descontrole da inflação.
Ou então, você investe apenas em pós-fixado, se a taxa Selic é reduzida durante o ciclo, você vai estar perdendo oportunidade de ter travado uma taxa melhor antes do corte dos juros. Fora que pode haver uma provável pressão inflacionária que também irá lhe trazer uma perda de poder de compra do seu capital.
E por fim, se estiver apenas em títulos atrelados ao IPCA, pode acontecer uma janela de tempo com desinflação, onde provavelmente os juros estarão altos com uma política monetária contracionista e você estará perdendo oportunidade de rentabilizar melhor parte do capital na fração pré e pós por um tempo.
Conclusão
Esses diferentes cenários que citei acima, vão impactar o patrimônio de cada investidor diariamente pela marcação a mercado dos títulos.
De forma positiva ou negativa, mas saiba que estará lá. Então não esqueça, que mesmo na renda fixa, entender qual o objetivo de investimento, adequar um portfólio ativo de diferentes ativos, sem dúvidas tem o poder de potencializar o retorno ao longo do tempo. Mesmo na renda fixa!
Renan Würfel
Economista formado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Pós Graduado em Finanças e Planejamento pela Universidade Federal de Uberlândia. Sócio e assessor de investimentos na Blue3 Investimentos, XP.
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