Temporada de balanços: os destaques do quarto trimestre de 2023
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Temporada de balanços: os destaques do quarto trimestre de 2023
1 abr 2024•Última atualização: 12 junho 2024
A temporada de resultados do quarto trimestre de 2023 (4T23) teve fim no dia 28 de março de 2024. Os próximos dados, referentes ao primeiro trimestre de 2024, devem ser divulgados a partir do dia 15 de abril.
Então, teremos um pequeno período de duas semanas para digerir os números atuais e partir para os próximos que virão, ou seja, os resultados do 1º trimestre de 2024 (1T24).
Sobre os resultados divulgados do 4T23, apesar de variações específicas entre as empresas e os segmentos, tivemos uma tendência positiva nos números, em especial para empresas do índice Small Caps, que subiu 6,9% em fevereiro e março, ante uma alta de somente 0,3% do Ibovespa no mesmo período.
Confira abaixo uma análise dos resultados do 4T23 dos principais setores:
Commodities
Após fortes resultados nos últimos anos, os preços das commodities estão se normalizando e voltando ao patamar pré-Covid.
No petróleo, tivemos números um pouco mais fracos por conta de uma dinâmica baixista no preço do produto. No começo do trimestre o barril estava próximo a US$ 90,0 e no final estava praticamente em US$ 75.
Por outro lado, desde janeiro o preço do petróleo voltou a melhorar, atingindo o patamar de US$ 87 nesse primeiro trimestre de 2024, o que já deve impulsionar novamente os resultados dessas empresas.
Quando falamos de aço e minério, o primeiro produto segue com diversos problemas, em especial no Brasil, onde o mercado está com um excesso de oferta devido aos produtos chineses que entram no país.
Entretanto, o minério teve uma alta de quase 40% no trimestre, o que ajudou bastante as empresas que têm um “braço” nesse setor.
Além disso, na celulose e nos frigoríficos tivemos uma manutenção do que já estava sendo entregue. Na celulose, a queda no preço do produto prejudicou um pouco os números.
Ademais, o papel e as embalagens já começam a dar um sinal de fraqueza maior, o que prejudicou os resultados de empresas desses segmentos.
Já nos frigoríficos, a parte de gado nos EUA permanece problemática. Porém, os suínos e as aves já sinalizaram uma boa recuperação e foram a parte positiva dos resultados divulgados.
Olhando para o setor de químicos, após um 2023 bastante desafiador, as empresas já começam a dar sinais de que fizeram fundo, com os spreads voltando a apresentar uma tímida melhora, o que é bastante positivo.
Construção civil
A construção civil apresenta dois lados bem diferentes. No primeiro, temos as empresas que operam em segmentos de baixo padrão, em especial com obras para o Minha Casa Minha Vida (MCMV), que tiveram números excelentes e demanda bastante aquecida.
Em contrapartida, as construtoras de médio e alto padrão seguem com problemas para apresentar bons números, que só devem se reverter com uma queda mais acentuada na Selic. Assim, os resultados ainda ficaram abaixo do potencial das empresas.
No MCMV, as empresas de forma geral melhoraram sua VSO (vendas sobre oferta) e tiveram um padrão de resultados muito parecido com o que já estavam entregando, acima da média histórica.
No entanto, as companhias de médio e alto padrão ainda não apresentaram um ponto de inflexão nos resultados, algo que deve ocorrer somente a partir de 2024.
Um setor que está totalmente correlacionado com a construção civil são os acabamentos, fornecendo porcelanatos ou cerâmicas para os imóveis.
Esse segmento ainda está apresentando resultados mais fracos, em linha com o que está sendo visto na construção de alto padrão.
Todavia, fica cada vez mais a impressão de que estamos próximos a um ponto de inflexão, com destaque especial para a Portobello (PTBL3), que já começou a apresentar resultados melhores.
Varejo
Talvez seja o setor mais distinto por englobar desde o varejo alimentar até a venda de roupas. Logo, a dinâmica de cada setor será bem diferente.
Quando falamos do varejo alimentar, o setor segue apresentando crescimento mais baixo devido a deflação nos alimentos.
Contudo, as empresas passaram por um forte período de crescimento e agora estão maturando seus investimentos, o que está melhorando aos poucos as rentabilidades das operações.
No segmento de moda, os dados foram bastante diversos, com algumas empresas reportando número acima do consenso, como foi o caso de C&A (CEAB3) e Guararapes (GUAR3) e outras vindo um pouco mais fracas.
Aqui, vale citar que a maioria dessas empresas tem um braço financeiro com muitos problemas e esses segmentos parecem ter feito um fundo em termos de inadimplência.
Portanto, o ano de 2024 deve contar com uma melhoria relevante na lucratividade das operações.
Para as varejistas de eletrônicos e eletrodomésticos tivemos diversos problemas. A demanda mais baixa do setor privado somado ao atraso de diversas licitações públicas fizeram com que os números fossem bem fracos, além de serem empresas mais endividadas, um problema grave dado o patamar atual da SELIC.
Indústria
Assim como foi visto nos últimos trimestres, as vendas nacionais estão perdendo bastante força. Em compensação, as vendas para o mercado externo estão aquecidas e sustentaram a rentabilidade das empresas que atuam na nossa bolsa.
Bancos
O terceiro trimestre tinha sido bastante importante, com a maior parte dos bancos sinalizando um processo de inflexão na inadimplência.
Por outro lado, o quarto trimestre parece ter sido um divisor importante. Os bancos que estavam mais disciplinados estão colhendo os frutos agora, como o Itaú (ITUB4), que segue reduzindo sua inadimplência e melhorando o ROE.
Ainda assim, a inadimplência segue muito problemática nos bancos que já tinham esse problema. Com destaque para o Bradesco (BBDC4), que caiu de forma acentuada após o resultado e para o Santander (SANB11), que voltou a piorar os números.
Além disso, vale citar outros bancos que devem ter um 2024 mais fraco devido a fatores externos.
Como o Banco do Brasil (BBAS3), que apresenta uma inadimplência cada vez maior e um spread com os clientes reduzindo. Bem como o Banco ABC (ABCB4), que também começa a ter problemas na inadimplência de empresas pequenas e médias.
Utilities (energia e saneamento)
Na parte de saneamento, vimos mais um trimestre forte, que uniu reajustes de tarifas com aumento nos volumes fornecidos, com uma boa melhora na parte financeira dessas empresas.
Olhando para a energia, os resultados foram diversos, mas relativamente fracos devido a uma inflação menor. Ou seja, os reajustes das linhas também foram menores.
Por fim, com o nível das chuvas normalizando, o preço da energia já começou a subir. O que ajuda as geradoras, em especial as térmicas, mas prejudica as distribuidoras e as empresas de saneamento, que possuem um custo alto com energia.
Renato Reis
Formado em Ciências Econômicas pelo Ibmec BH. Analista de valores mobiliários (CNPI-P EM-3580) credenciado pela Apimec. Analista fundamentalista na casa de análise DVinvest.
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