A opinião dos setores da economia nacional sobre a Selic
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A opinião dos setores da economia nacional sobre a Selic
22 jun 2023•Última atualização: 21 junho 2024
Após o anúncio da decisão do Copom de manter a taxa Selic, diferentes setores da economia nacional planejam os próximos passos e, até mesmo, a tomada de decisões estratégicas.
Agora, a expectativa é sobre quando começará a queda dos juros. Isso porque, o comitê não sinalizou redução em agosto, como esperado. Com isso, setores da economia nacional manifestaram sua opinião sobre a Selic.
Confira!
Indústria
Vamos começar com um dos setores que é base para a economia, o produtivo. A indústria brasileira tem uma opinião forte sobre a taxa Selic.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) avaliou que manutenção da taxa básica de juros está acima do necessário para o combate à inflação e, no momento, apenas impõe riscos adicionais para atividade econômica.
De acordo com a CNI, há mais de um ano que a Selic está em patamar alto o suficiente para contrair a atividade econômica e, assim, controlar a inflação.
Esse quadro ficou ainda mais evidente nos últimos meses, segundo a entidade. "Em maio, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) desacelerou fortemente e ficou em 3,9% no acumulado dos últimos 12 meses", avaliou em nota.
Desta forma, a CNI considera equivocada a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, de manter a Selic em 13,75% ao ano.
“Esperamos que, com a continuidade do movimento de desaceleração da inflação, o Copom inicie já na próxima reunião o tão necessário processo de redução da Selic”, afirma o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade.
Isso porque, uma taxa de juros mais baixa pode estimular o consumo interno e, consequentemente, aumentar a demanda por produtos industriais.
"A Selic alta também traz prejuízos para o mercado de crédito", diz a CNI. A concessão de crédito às empresas caiu, em termos reais, 8,6%, na comparação dos primeiros quatro meses de 2023 com os últimos quatro meses de 2022.
Assim, a indústria espera que o Banco Central tome decisões que contribuam para um ambiente econômico estável e favorável aos negócios.
Comércio e Serviços
Já para o comércio, a taxa Selic é um fator importante para a definição dos preços e das condições de crédito.
Uma taxa de juros mais alta pode encarecer o crédito e, consequentemente, afetar o consumo. Já uma taxa de juros mais baixa pode estimular o consumo e, consequentemente, aumentar as vendas.
Para a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), o parecer do Copom em manter a Selic é previsível e acertado, uma vez que alinha as expectativas da autoridade monetária e do mercado.
Entretanto, a Entidade pontua que o dado de inflação apresentado no mês de maio foi contido, melhorando as expectativas para os preços atuais e para o próximo ano, convergindo cada vez mais ao centro da meta. Consequentemente, abre espaço para o início do ciclo de expansão monetária. Por isso, a indicação de corte pelo Banco Central (Bacen) poderia ser apresentada na próxima reunião, em agosto.
De acordo com a FecomercioSP, o juro no patamar atual traz reflexo negativo para o ritmo da atividade econômica, ao limitar a capacidade de investimento das empresas e do consumo das famílias. Contudo, a redução dos juros tem de ser feita de forma equilibrada.
Isso acontece porque, a despeito de uma queda na Selic, frente a uma precipitação e ao desalinhamento das expectativas, os juros de mercado poderiam seguir caminho inverso. Sabe-se que a taxa de juros em 13,75% a.a. interfere na dinâmica da geração de emprego, pois reduz oportunidades. Todavia, a queda de modo inadequado pode aquecer o mercado de trabalho, apesar de corroer a renda por meio do processo inflacionário não controlado.
Construção Civil
No setor de construção civil, a taxa Selic é um fator importante para a definição das condições de financiamento imobiliário. Uma taxa de juros mais alta pode encarecer o crédito e, como resultado, afetar o acesso à moradia.
Em nota, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) destacou que a decisão do Copom afeta o desempenho da atividade produtiva no país e impacta diretamente o setor da construção.
“Lamentamos que a taxa seja mantida, mais uma vez, nesse patamar exorbitante. Isso está claramente afetando o desempenho da atividade produtiva no país, justamente ela que gera renda e emprego. Particularmente, a indústria da construção está sendo muito impactada por esse juro elevado”.
A entidade ainda destacou que deve revisar a projeção de crescimento do setor para 2023. “O cenário com menor pressão inflacionária, a melhoria das expectativas e a redução de incertezas com a aprovação do arcabouço fiscal pela Câmara dos Deputados demonstra que ou reduzimos os juros ou continuaremos a atrasar o crescimento do país”, disse a entidade.
De acordo com a economista da CBIC, Ieda Vasconcelos, a taxa de juros elevada é o principal problema que vem sendo enfrentado pela construção. “É certo que no atual patamar a taxa desestimula os investimentos produtivos."
Mercado Financeiro
Por fim, o mercado financeiro é um dos setores mais sensíveis às decisões do Banco Central em relação à taxa Selic.
Uma taxa de juros mais alta pode atrair investimentos estrangeiros e contribuir para a valorização da moeda.
Já uma taxa de juros mais baixa pode estimular o investimento em ações e títulos públicos.
Assim, economistas de gestoras, bancos e escritórios de investimento estão divididos sobre quando, de fato, o Copom deve dar início ao esperado ciclo de corte da taxa de juros Selic.
Isso porque, no texto em que o Copom comunicou a medida, boa parte dos economistas que atuam no mercado financeiro foram pegos de surpresa pela falta de uma sinalização clara sobre o início dos cortes.
"O comunicado não elimina essa possibilidade, mas também não deixa claro quando ocorrerá o corte e sua magnitude. É provável que o dia de hoje traga mais volatilidade na bolsa, com investidores adaptando-se para realidade", diz o relatório da casa de análise DVinvest.
“O banco central se posicionou contra o otimismo do mercado de que começariam a cortar os juros. " É a opinião de Bruna Centeno, economista e sócia da Blue3 Investimentos. “Os mercados esperavam algo muito mais positivo .”
Live especial
Para entender todo o atual cenário e saber quais são os investimentos mais interessantes para o segundo semestre, a Blue3 Investimentos promove um evento especial. Uma live com Bruna Centeno, Camilo Cavalcanti, sócio e gestor da Oby Capital, e Arthur Wichmann, especialista em Investimentos da XP Private.
A live gratuita será no dia 27 de junho, a partir das 19h. A transmissão será pelo Youtube. E as inscrições já estão abertas pelo link.
Raissa Scheffer
Raissa Scheffer (MTB: 0051926/SP) é jornalista com 16 anos de experiência em economia. Foi repórter e editora na Gazeta de Ribeirão e Jornal ACidade. Com passagens pela EPTV Ribeirão, Portal Terra, TV Record e Portal Revide.
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