O câmbio foi feito por Deus para humilhar os economistas
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O câmbio foi feito por Deus para humilhar os economistas
15 jul 2024•Última atualização: 15 julho 2024
Uma das perguntas que quem trabalha no financeiro mais escuta é: “e o dólar?”.
Bom, essa é uma questão bastante complexa em que as pessoas que estão procurando essa resposta, normalmente não tem ideia de quantas variáveis estão envolvidas por trás dela.
Gosto muito de uma frase utilizada pelo Daniel Haddad, estrategista chefe da Avenue Securities, em suas apresentações que fala:
“O câmbio foi feito por Deus para humilhar os economistas”.
O que tem por trás dessa frase bem-humorada é que não existe força maior no mundo que possa realmente saber para onde o câmbio está indo.
E, se alguém estiver garantindo isso, não está sendo honesto. As previsões podem até se concretizar, mas estatisticamente, posso afirmar que proporcionalmente as chances eram as mesmas de não serem corretas.
Mais reflexões
Quando estamos falando dentro da ótica de investimentos em moeda estrangeira, e aqui usando o dólar como referência, acredito que o conceito que deveria ser consenso é que o dólar caro é aquele que você não comprou.
Outra ideia que o Haddad usa em suas apresentações que ajuda nesse racional é uma frase de bastante impacto e que sempre traz uma reflexão importante:
“Você investiria em uma moeda que perdeu 80% do seu valor desde quando foi criada?”.
Pois é, via de regra, a primeira resposta que nos vem em mente é o não, claro. Mas e se eu te disser que estamos falando do Real?
De quando ele foi lançado, lá em 1994, acabamos de comemorar 30 anos de Plano Real, houve uma paridade de um para um na relação dólar/real.
Desde então, a nossa moeda vem perdendo seu valor ao longo do tempo e é muito claro que no longo prazo, a moeda forte sempre irá ganhar valor em relação a moeda fraca.
Ou seja, a não ser que o Brasil passe a ser uma potência econômica superior aos seus pares de primeiro mundo, essa lógica não irá mudar.
Paridade de moeda
A paridade de moeda basicamente reflete o poder de compra de uma economia em relação a outra. Por isso, a referência são as moedas fortes de países mais desenvolvidos.
Como cada nação, por teoria, via política monetária tem o poder de criar/emitir mais moeda/dinheiro infinitamente, precisa haver uma equação que equipare e defina um valor entre essas transações.
Por exemplo, podemos usar o preço de um Iphone como referência. A Apple é uma empresa norte americana, sua moeda é o dólar e vamos dizer que o preço de venda final de um determinado modelo seja de mil dólares.
Se, para comprarmos um dólar, precisamos de cinco reais, custa cinco mil reais para um brasileiro adquirir um Iphone nos Estados Unidos.
Se não houvesse essa relação de preço/paridade das moedas, caso o Banco Central do Brasil imprimisse infinitamente novos Reais e os distribuísse para a sua população, quantos Iphones cada pessoa poderia ir lá e comprar mais?
Se assim fosse, não haveria valor na moeda, pois viraria um jogo desenfreado de todas as nações emitindo mais e mais moeda, sem que exista mais qualquer preço de referência para nada.
Conclusão
Por fim, existem muitas variáveis que impactam o câmbio e ele existe para mensurar o poder de compra entre moedas para bens e serviços ao longo do tempo.
Quanto mais desenvolvida uma nação, mais poder ela tem, mais escassa é aquela moeda. Nos investimentos, no médio longo prazo, quanto mais você tiver um ativo desse tipo em seu poder, mais valor ele terá ao longo do tempo.
Se Deus criou o câmbio para humilhar os economistas, não espere um deles lhe dizer qual o melhor momento de comprar, apenas siga o seu comprovado poder de ganhar valor.
Acredite, se o tempo não for parar para você, sempre é tarde para esperar o melhor momento de comprar mais moeda forte!
Renan Würfel
Economista formado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Pós Graduado em Finanças e Planejamento pela Universidade Federal de Uberlândia. Sócio e assessor de investimentos na Blue3 Investimentos, XP.
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